Civis em fuga de Ras Lanuf onde é esperado ataque de Khadafi

07-03-2011 06:59

 

Os últimos civis que ainda permaneciam na cidade petrolífera de Ras Lanuf, na Líbia oriental, puseram-se esta manhã em fuga temendo um ataque iminente das forças leais ao líder líbio Muammar Khadafi sobre as linhas rebeldes que ali tomaram posição, após terem perdido ontem a localidade vizinha de Benjawad.
dezenas de veículos abandonaram a cidade, em direcção a Bregadezenas de veículos abandonaram a cidade, em direcção a Brega (Goran Tomasevic/Reuters)

Em menos de 15 minutos, dezenas de veículos abandonaram a cidade, em direcção a Brega, mais para Leste, que se encontra sob o controlo da rebelião desde a semana passada. “Disseram-nos que eles [as tropas de Khadafi] prendem as pessoas e as levam e que, por isso, devíamos partir quanto antes”, explicou um residente de Ras Lanuf ao correspondente da agência noticiosa francesa AFP, já com o carro em marcha, os dois filhos sentados no banco traseiro.

No principal posto de controlo da cidade, que os rebeldes conquistaram na sexta-feira, uma vintena de homens armados montava guarda, equipados com armas de defesa antiaérea. E no único hotel, ocupado já quase apenas por jornalistas, a debandada deu-se durante a madrugada, sob a insistência dos funcionários que instavam toda a gente a partir. “É urgente, urgente, têm que se ir embora, todos”, gritavam, descreve ainda a AFP.

As duras batalhas do fim-de-semana em Benjawad – que os rebeldes tomaram no sábado, já com olhos num avanço sobre Sirte, a cidade natal de Khadafi, e que acolhe uma importante base militar, a uns cem quilómetros para Oeste, e que as forças do regime reconquistaram no dia seguinte – saldaram-se com sete mortos e mais de 50 feridos, de acordo com o mais recente balanço, feito esta manhã por fontes médicas locais.

“Ouvimos que as nossas posições [em Ras Lanuf] vão ser bombardeadas, por isso levámos as nossas armas daqui, para o deserto”, explicou um rebelde num dos postos de controlo da cidade, à beira da auto-estrada em direcção para Leste. Um outro indicou à agência noticiosa britânica Reuters que as forças da rebelião tinham retirado para o deserto com o propósito de organizar um ataque para recuperar Benjawad, a uns 60 quilómetros de distância de Ras Lanuf.

Nações Unidas nomeiam novo enviado para avaliar situação humanitária
Enquanto os combates prosseguem no território líbio – cada vez mais com os contornos de uma guerra civil sem desenlace à vista – as Nações Unidas nomearam um novo enviado especial para a Líbia, o antigo ministro jordano dos Negócios Estrangeiros Abdelilah al-Khatib, e preparam igualmente uma equipa de ajuda humanitária.

Al-Khatib recebeu a missão de “encetar consultas urgentes com as autoridades em Trípoli sobre a situação humanitária na região”, é precisado em comunicado do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, frisando que “os civis estão a suportar o maior fardo da violência” e instando “ao fim imediato do desproporcionado uso da força por parte do Governo e dos ataques indiscriminados contra alvos civis”.

O mesmo documento nota que Khadafi deu luz verde à entrada de uma equipa de avaliação das Nações Unidas em Trípoli, mas exige também ter acesso urgente à cidade de Misurata, a uns 200 quilómetros para Leste da capital, onde ocorreram violentas batalhas entre as forças fiéis ao regime e o movimento de rebelião. A coordenadora da assistência humanitária da ONU, Valerie Amos, sublinhou esta manhã que “há muitas pessoas feridas e a morrer [em Misurata], a precisarem de ajuda imediatamente”.

As forças leais ao regime desencadearam um forte ataque, com tanques e artilharia pesada, contra as posições rebeldes em Misurata, no sábado, mas acabaram por não conseguir recuperar a cidade e retiraram. Pelo menos 21 pessoas morreram nos combates, que duraram mais de seis horas, e mais de cem feridos foram levados até ao hospital da cidade, com cerca de 300 mil habitantes.

“Eles bombardearam as casas todas com armamento pesado. E pelo menos cinco mesquitas foram bombardeadas. E o hospital também... destruíram o nosso armazém de medicamentos de propósito”, denunciou um médico do hospital de Misurata, a maior cidade controlada pelo movimento da rebelião para lá da região do Leste do país.

Zauia, a 50 quilómetros para Oeste de Trípoli, foi também palco de batalhas no domingo, tendo aí também os rebeldes conseguido fazer face a novo ataque das forças de Khadafi. “Combatemos durante mais de hora e meia. Duas pessoas morreram do nosso lado e muitas mais ficaram feridas. Mas continuamos a controlar a nossa cidade”, avançou esta manhã o porta-voz do movimento rebelde em Zauia, Youssef Shagan.Notícia actualizada às 9h20